Encontro Nacional

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segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Os outros!

“Minha casa é grande, tem um jardim na frente, tem cerca branca, também tem uma árvore no quintal. Mas quando entro nesta casa não me sinto em casa, apenas estou numa casa , é estranho pensar assim de uma casa com a qual gastei tanto para construir. Deveria me sentir bem nela, deveria querer estar nela, mas me sinto estranho, me sentia mais à vontade naquele modesto apartamento que tinha no centro. Era pequeno, perto do boteco, local onde costumava jogar com os amigos, também ficava perto da praça. A cozinha era pequena, mas extremamente aconchegante para aquelas noites a dois. O que houve? Todo mundo gosta destas casas, porque eu não gosto? Será que eu tenho algum problema?” Este é um breve trecho de uma conversa com um amigo gaúcho.
Depois de ouvir este amigo ponderamos sobre os motivos que o levaram a ter esta casa grande e todas as coisas que vieram com ela. De acordo com este amigo, isso se deve ao fato ter se formado em medicina, começado a ganhar um bom dinheiro e os outros lhe dizerem que seu apartamento não era apartamento de médico. Deveria ter uma casa grande, tipo aquelas de filme, com a grama verde e a cerca branca, inclusive sua esposa concordou que, se os outros tinham, talvez fosse o caso de eles terem também. Logo percebi que tudo o que adquiriu foi para satisfazer aos outros e não a si próprio. Justamente por isso sentia-se um estranho dentro da própria casa, a moradia não tinha nada a ver com ele. Mesmo médico, com dinheiro, continuava uma pessoa simples, tinha os gostos e os amigos do tempo da juventude. A casa o afastou dos amigos, afastou-o até mesmo da esposa: a cozinha grande não proporcionou mais aquelas noites que só uma cozinha pequena proporciona.
O caso deste amigo é o caso de boa parte das pessoas: direcionam sua vida de acordo com o que os outros dizem que seria mais apropriado. Quando caminham na direção em que os outros, não se perguntam se estão estavam indo na direção que querem ou que tem a ver consigo. Continuam caminhando e olhando para os lados para saber qual é a referência para o próximo passo. Os outros se tornam a baliza para todas as ações, agem em bando, de maneira irrefletida. Qual foi a última vez em que você fez algo que queria? Digo para a  menina que gosta daquela roupa, sente-se bem, bonita com ela, mas não usa porque os outros vão falar. Digo do menino que conheceu uma menina de família humilde, mas que não leva o relacionamento adiante porque tem vergonha dos outros. Ou ainda, daquele que tinha muita vontade de ser professor, mas não segue a profissão porque os outros recomendam que seja engenheiro.
Sartre uma vez disse  “o inferno são os outros”, e ele sabe muito bem o que é isto. Em certa parte da vida, dada a perseguição que sofreu, teve praticamente que se esconder do mundo para poder continuar vivendo. Os outros podem existir em nossas vidas, mas a recomendação é que sejam apenas uma referência e não uma baliza, uma fita métrica com a qual nos comparar. Os outros, pessoas que não vivem a minha vida, não trabalham o meu trabalho, não criam os meus filhos, o que faz com que possam escolher para onde vai a minha vida? Sou eu quem faz dos outros júri, juiz e carrasco. Não são os outros que me condenam, e sim, eu mesmo, pois sou eu quem os dou o poder.

Rosemiro A. Sefstrom

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