Encontro Nacional

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sexta-feira, 13 de junho de 2014

Não estou ouvindo nada!

Não é de hoje que escuto histórias sobre pessoas que só ouvem o que querem ouvir. Normalmente pode-se falar de tudo perto da pessoa que ela não escuta, mas se falar sobre algo que a interessa ou chame sua atenção, logo ela se manifesta: “Hã?” Parece estranho, mas isso não acontece só com pessoas mais velhas que usam a desculpa da surdez para não se envolver em alguma questão sem sentido. Esse recurso também é muito usado por pessoas mais novas. Essa “surdez existencial” acontece por alguns motivos, podemos pensar em alguns.
Imagine que você trabalha como vendedor e está com seus produtos ou portfólio mostrando a um cliente que se mostra reticente, nega a compra. Você, como o perspicaz vendedor que é não escuta a negativa e continua tranquilamente argumentando por seu produto. Não é que não tenha escutado, mas é conveniente fazer de conta que não escutou. Essa surdez serve a um propósito: a venda de um produto. Imagine se o vendedor parar de mostrar o seu produto cada vez que receber um não? Quantos produtos você já comprou pela insistência do vendedor? Sem essa surdez, provavelmente o vendedor não sobreviveria com suas vendas.
Outro caso é daquelas pessoas que não ouvem uma parte de si, são surdas para si mesmas. Você, será que é surdo? “Claro que não!”, podes responder, mas acho que muitos provavelmente são surdos para si mesmos. Quantos de vocês já sentiram dores de dente, o corpo já está avisando que é hora de voltar ao dentista, mas nem por isso foi. Há também o antigo, na verdade novo problema criado pela balança. Basta ver a quantidade de pessoas que percebem claramente o corpo dizendo para diminuir a quantidade de alimento, de bebida, mas não param. Um último exemplo desses é a mulher que se casou com um marido violento, a razão dela diz que ela corre perigo, mas nem por isso ela vai embora.
O ouvido, assim como os olhos, os músculos e qualquer outra parte de nosso organismo precisa ser treinado para que tenha um bom desempenho. Um atleta que treina para um campeonato de tiro, enquanto engatilha sua arma e olha para o alvo, presta cem por cento de atenção naquilo que vai lhe dar o resultado. Um maestro, enquanto rege sua orquestra, percebe cada um dos instrumentos, desde a afinação, o tom, o tempo, tudo. Essa atenção se dá pelo objetivo que ele tem, ou seja, fazer com que o som produzido seja o melhor possível.
O problemático é que sem ouvir não há como responder e muitas pessoas respondem mesmo sem entender o que foi dito. São como surdos que erraram a leitura labial, mas respondem mesmo assim. Como saber? Na maior parte das vezes é bastante simples examinar se a resposta tem a ver com o que foi falado, ver se o que é dito tem a ver com o assunto. Pessoas que não escutam frequentemente reclamam de maus entendidos, mas na maioria das vezes elas mesmas provocaram o mal entendido.
Se você disser a sua mulher: “Como você está linda hoje!” e depois disso ela lhe perguntar se estava feia ontem, provavelmente ela não lhe ouviu. Limpe os ouvidos dela dizendo: “Não foi isso que eu disse. Eu disse que você está linda hoje. Não falei de ontem”. É preciso estar atento ao discurso do outro, de modo a ouvir o que ele realmente diz, não aquilo que você quer ouvir.

Rosemiro A. Sefstrom

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