Encontro Nacional

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terça-feira, 1 de abril de 2014

Relações de Mercado

Algumas pessoas passam pela vida como mercadores existenciais: para elas tudo não passa de mais valia ou lei da oferta e da procura. Não é difícil ver pessoas assim: basta ouvir com um pouco de atenção as novelas da programação televisiva e perceberá. Pessoas que tranquilamente pesam, quantificam o que receberam e, de acordo com isso, fazem a devolução. Assim, o menino procura uma menina para namorar, sendo que durante o namoro ambos dispensam um tempo para o outro. Naturalmente e culturalmente o menino presenteia a menina em cada uma das datas que lhes é comemorativa. Depois de um tempo, o relacionamento não vai bem e eles terminam. Fica evidente a relação mercadológica das emoções quando o menino diz: “Depois de tudo o que eu te dei, de todo o tempo que dediquei a você é isso que eu ganho em troca?” Do lado da menina a frase que aparece é um pouco diferente: “Eu gosto de você, mas você não é o que eu quero para mim”.
Em Filosofia Clínica, como já dito em outros artigos, aprende-se que cada um tem conteúdos internos relacionados das mais diversas formas. Neste caso os conteúdos que aparecem no menino são as emoções e comportamento e função. As emoções são estados afetivos vividos pela pessoa, os quais podem ser: raiva, amor, paixão, ódio, saudade, etc. Já o comportamento e função é um conteúdo que traz consigo a relação de causa e efeito, como a de ligar o ar condicionado para refrescar. No menino esta relação dos conteúdos é clara por vermos que o menino gosta da menina, mas sua relação se dá de maneira que ele tem um comportamento, dedicar tempo, dar presentes, intencionando uma função: conquistar a menina. Na menina a relação entre comportamento e função e as emoções também acontece, mas a ela o conteúdo das buscas também interfere. As buscas são conteúdos que dizem para onde uma pessoa se direciona existencialmente, desde uma busca pequena e próxima até grandes e distantes. Para a menina, mesmo ela se relacionando com o menino de maneira mercadológica ela sabe o que quer, ou seja, sabe o que intenciona quando entra num relacionamento.
O exemplo acima é a base para entender porque, muitas vezes, haverá pais que depois de criar os filhos cobrarão deles tudo o que lhes foi investido. Não é necessariamente o dinheiro que foi investido, mas os estudos, as namoradas, o curso superior, o emprego, o sucesso profissional. Não é difícil ouvir e ver nas novelas pais e mães que dizem em alto e bom som: “Foi dado de tudo e é assim que retribui!” Aquele que deu, por ter forte o comportamento e função, entende que aquele que recebeu deve obrigatoriamente devolver. Para ser ainda mais claro, veja-se a novela na qual a mãe coloca as filhas como o seu investimento, ou seja, o trampolim para subir socialmente. A mãe chega a controlar se as filhas perderam a virgindade, dizendo que esse era o seu maior tesouro, praticamente em sentido literal.
É necessário entender que pessoas que funcionam assim não são más ou têm qualquer tipo de defeito de caráter. Pessoas que se estruturaram desta maneira, têm as questões emocionais como mercadoria e tratam estas como tal. Não quer dizer que não sofram, não sintam as dores emocionais como qualquer outra pessoa, mas mesmo a dor será tida como produto de uma relação de causa e efeito, comportamento e função. O interessante é que a educação de muitas crianças está acontecendo por este viés nos dias atuais, elas aprendem que a mãe dá amor, mas para isso ela tem de fazer o que a mãe quer.

Rosemiro A. Sefstrom

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