Encontro Nacional

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quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Quanto vale uma vida?

Antes de qualquer resposta a priori é necessário entender que não há uma medida de valor que possa quantificar uma vida. Cada ser em sí é único, insubstituível, com suas características, jeito de ser, maneira de ver o mundo. No entanto, é interessante pensar em algo que comumente se vê e não se percebe: que a vida de uma pessoa é tratada, em muitos casos, a partir de um juizo de valor.  Nesses casos, nem sempre muito claros, as pessoas que dependem do outro ficam a mercê de seu juízo de valor. Em Filosofia Clínica todo o juízo de valor é chamado de axiologia, assim como na Filosofia Acadêmica. Assim, axiologia me diz o que é importante para a outra pessoa, ou seja, o que ela considera importante para si; não necessário, mas importante.
Hoje pela manhã ao ver o jornal, deparei-me com uma notícia muito comum nos dias de hoje. O jornalista dizia que um jogador de futebol engravidou uma moça. Até então normal, mas o que espanta é dizer que o jogador já avisou a família que cumprirá com todas as obrigações financeiras. Não conheço o jogador e muito menos a moça, mas se pode perguntar: qual é o valor desta vida gerada pelos dois? Posso arriscar, talvez cometendo um erro vergonhoso, mas parece que para ela ter um filho é garantir uma boa quantia em dinheiro para si, o filho é um meio para ganhar a vida. Para o jogador o filho é a consequência de uma atitude que vai lhe custar dinheiro, só. A vida de uma pessoa que ainda nem nasceu já tem preço.
O filme “Antes de Partir”, estrelado por Jack Nicholson no papel do rico empresário e dono do hospital Edward Colen e Morgan Freeman no papel do mecânico Carter Chambres, apresenta uma brilhante história que mostra o fim da vida de dois homens que morrerão de câncer, Neste filme, ao chegar ao hospital, por se saber uma pessoa simples, humilde, Chambers pede apenas que o médico olhe seus exames. O mesmo se nega, pois não é sua competênca, isso deveria ser feito pelo médico que acompanhava seu caso. Em contrapartida, o rico Colen reclama do fato de ser colocado em um quarto com outra pessoa, quando ele mesmo disse que hospital não é hotel.  Naquele momento ele se colocou acima de todas as outras pessoas, queria que fosse feita a sua vontade, como se afirmasse que “a vida de uma pessoa tem seu preço e é sempre menor que o meu”.
Ontem, um daqueles jornais sensacionalistas noticiava a morte de uma jovem pelo namorado. Segundo a notícia, o jovem assassinou a ex-namorada a facadas porque estava apaixonado por ela e ela o deixou. Não é difícil ver meninos e meninas que condenam o seu companheiro ao seu amor, alguns condenam a si próprio. Um amor que sufoca, que faz do outro objeto de uso, que transforma a outra vida em posse. A vida tem valor quando é minha, se não for minha não será de ninguém.
Desde sempre, para não dizer há muito tempo, israelenses e palestinos que vivem num pequeno pedaço de terra no Oriente Médio estão em guerra. Lá, antes de tudo, sua guerra é por terra e água, recursos escassos naquela região. Um pouco além deste lugar, outras regiões também estão em guerra e além de terra, água, riquezas e poder existe a questão religiosa envolvida. O interessante é que a maioria das religiões prega o respeito e o valor à vida, mas apóiam práticas violentas contra pessoas que não têm o mesmo credo. Estou falando de países distantes, mas aqui, do lado da nossa casa, pode haver uma pessoa de outra religião. Alguns pensam: “a vida dessa pessoa tem valor se ela tiver a mesma religião que eu.”
Não é por um destes fatores isolados, mas o conjunto de vários fatores que mostra para cada um quanto vale uma vida. Pense um pouco sobre isso, veja se as suas atitudes mostram que você valoriza a vida. Lembre-se que, assim como você mede, também pode ser medido.


Rosemiro A. Sefstrom

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