Encontro Nacional

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sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

O que não temos

Há um tempo atrás escrevi algo sobre Papéis Existenciais, ou seja, o rótulo que nos damos. Este papéis ou rótulos são como um casaco, um uniforme que vestimos em cada uma das nossas atividades da vida. Quando estamos em casa somos pais, maridos, irmãos; no trabalho, somos colaborador, gerente, diretor, dono, e assim por diante. Para algumas pessoas esses uniformes mudam conforme a pessoa muda de acordo com as circunstâncias. Um exemplo, apenas para ilustrar é o caso de uma pessoa que frente a uma platéia fala, graceja, tem uma desenvoltura de dar inveja, ele é palestrante. Quando desce do palco e assume o papel existencial de namorado tem grandes dificuldades para dizer o que sente para sua namorada. Algumas pessoas mudam tanto que quando assumem um determinado Papel Existencial não reconhecem a si mesmas.
Cada vez que falo nestes rótulos lembro-me de um antigo desenho da década de 1950 da Walt Disney, no qual Pateta vive um motorista e a Motor Mania. No início do desenho o narrador faz a descrição de uma das melhores pessoas que se pode conhecer na vida, o senhor Walker. A expressão usada para definir este senhor é: “Viva e deixe viver”. No entanto, quando ele pega no volante ele muda tanto que sua personalidade muda completamente, ele se torna o motorista. Do momento em que se torna motorista até o momento em que desce se torna um homem furioso, mal educado, violento. Ao descer do carro, novamente retorna ao personagem calmo, educado, uma pessoa de índole invejável. É uma história simples, mas de uma profundidade impressionante, lembrando o quanto algumas pessoas se transformam ao se revestirem de outro papel existencial. Como o pai, aquele homem rude, bruto, quase violento quando educou seus filhos, e que hoje é um homem calmo, doce, quase bobo, no papel de avô.
Há um tempo atrás, em reflexões durante nossos encontros de Filosofia Clínica Packter dizia: “Existe coisa mais injusta do que cobrar algo que o outro não tem para lhe dar?” Algumas pessoas, para não dizer a maior parte das pessoas assume pela vida diversos papéis existenciais e em alguns se torna muito boa, em outros nem tanto. Como aquela menina, que é uma ótima filha, ótima neta, uma namorada perfeita, como profissional, irrepreensível, mas uma péssima mãe. Em cada um dos rótulos que ela assumiu aprendeu a fazer ou não determinadas coisas para cumprir a caminhada daquele papel existencial. Alguns filhos nunca perceberam a perfeição de sua mãe nas mais diversas áreas, mas cobraram e muito o que ela não tinha para dar, o ser mãe.
Em alguns filhos, existe a mágoa  por não se sentirem amados pelo pai, pois, segundo eles seu pai nunca os amou. Talvez até tenham razão. Mas quantos destes pais, depois de adultos mostram que podem não ser pais, nunca assumiram este uniforme, mas são e serão ótimos amigos dos filhos. Dão aos filhos todo o amor que não tinham para dar como pai através da amizade. Nas ideias é bastante simples de dizer e até mesmo de entender, mas na prática esta facilidade desaparece. É interessante entender que serei um bom amigo, filho, neto, marido, mas talvez não seja um bom pai. Não por falta de querer, esforço ou dedicação, mas porque não tinha na minha estrutura o necessário para ser pai.

Rosemiro A. Sefstrom

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