Encontro Nacional

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quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Re-unir os cacos!

Em Filosofia Clinica existe um procedimento clinico, ou seja, uma ferramenta que o filósofo usa no seu trabalho que se chama reconstrução. A própria palavra já diz praticamente tudo, é uma ferramenta que possibilita ao terapeuta remontar à pessoa situações que viveu e que se perderam. No dia-a-dia muitas pessoas já usam a reconstrução, fazem o processo de recuperar antigas vivências, mas nem sempre de maneira produtiva. O terapeuta, quando precisa usar esta ferramenta, ele sabe o que vai reconstruir junto com a pessoa. O relato Werther no livro Os sofrimentos do jovem Werther mostra um pouco de como funciona essa técnica.
“Foi um magnífico nascer do sol: a floresta úmida e a planície cochilavam. Ela perguntou-me se eu não queria fazer o mesmo acrescentando que eu não me acanhasse por causa dela.
_ Enquanto eu puder ver esses olhos abertos – respondi, olhando-a intensamente -, não corro o risco de adormecer ”. (Página 37)
No relato acima a pessoa reconstruiu boas memórias, um momento em que provavelmente viveu algo muito bom. Mas nem sempre é assim, existem muitas pessoas que passam os dias retomando memórias, emoções, sensações, muito ruins. Estas pessoas habilidosamente pegam um evento em sua vida que lhes causa grande sofrimento e retomam desde o início até o fim. Em cada pedaço de sofrimento, até que este sofrimento esteja presente agora, assim como foi no passado.  O problema é que estas pessoas fazem reconstruções de coisas que lhes fazem mal, usam uma ferramenta poderosa para machucar a si própria e os que a rodeiam.
Outras pessoas ao longo da vida quebram, uma empresa, um casamento, um namoro, uma amizade. Os motivos pelos quais elas quebram não vem ao caso, mas interessa saber que muitas delas querem reconstruir o que quebrou. Algumas destas pessoas reconstroem tudo com tanta perfeição que até mesmo os defeitos que haviam na empresa, relação. Esse tipo de reconstrução levará a pessoa a reviver tudo novamente, ou seja, provavelmente irá quebrar outra vez.
Há quem diz que se reconstruir um casamento faz com que ele não seja mais o mesmo, verdade. Em muitos casos ele fica muito melhor, algumas pessoas, diferente daquelas do parágrafo anterior, quando reconstroem, elas aprendem com os erros de sua última construção. Pessoas assim costumam caminhar para frente, aprendendo com as vezes que quebraram.
No entanto, muitas pessoas não usam este procedimento, muitas pessoas quebram e deixam os pedaços pelo caminho. Para estas o passado é diferente do presente, que vai ser diferente do futuro e não há motivos para ficar reconstruindo se podemos fazer coisas novas. Para quem vive com pessoas que não fazem reconstrução uma dica, quando estas pessoas quebrarem algo, provavelmente não tem volta. E elas pode quebrar um casamento, uma amizade, um grande amor, mas mesmo querendo, não vão voltar. Para estas pessoas a vida só caminha para frente, não há como reunir as peças.
Reconstruir é juntar os cacos, reorganizar as partes em torno daquilo que antes já foi um todo. Usar este procedimento pode ser de grande valia se estivermos reconstruindo boas memórias, sentimentos, ideias, sensações. Da mesma maneira a reconstrução pode ser um Calvário aos que retomam suas piores dores, seus piores pesadelos.

Rosemiro A. Sefstrom

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